segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os Marinbondos

Estávamos no mesmo quarto daquele dia da chuva se lembra, minha tia Lúcia estava lá também, ela é irmã de minha mãe e mora em Jacarezinho, numa chácara bem próxima à cidade, muito gostoso lá. Miguel, meu filho mais novo, numa certa visita, gostou muito também, catou minha prima Margarete pela mão e saiu em passeio, foi ver os bezerros, gansos e cisnes... Minha tia cozinha muito bem, ela faz um queijo divino, uma delícia.
Mas naquele dia ela ainda era solteira e morava no sítio com o vovô e a vovó. Minha mãe e ela conversavam bastante, entre um afazer e outro em suas costuras ou bordado, não lembro direito, lembro que ali havia uma máquina de costura e minha mãe estava sentada junto dela e era o local para esse trabalho, além também do tricô e do clochê que minha mãe ainda faz muito bem; e eu estava por ali, como gosto muito de minha tia, ficava sempre próximo dela.
A Alda perambulava pelo quarto todo; a janela parecia chamar a atenção dela, pois a todo o momento ela ia para janela, olhava para fora e para cima, minha mãe como sempre destinava um olho para nós, e sabendo como era a menina, vigiava o tempo todo.
Percebi que a Alda começava a subir na janela e ficava de pé com a cabeça para fora, por trás da vidraça levantada, onde ela segurava com uma mão; minha mãe e a Tia Lúcia advertiam a Alda a cada momento, mas ela parecia não ouvir, sempre falando algo ou cantarolando; ela me faz lembrar a Stephani. Stephani é minha filha mais velha, desde pequena Stephani perambulava muito também, com uma ressalva, não era tão “arteira” quanto a Alda.
Houve breve descuido...
Depois de tanto peraltear levemente, a Alda, precisando fazer algo de impressionante, expetacular, ou até mesmo peraltice pesada, sobe de manso na janela; eu acompanhava tudo; ela olhou para minha tia, para minha mãe e para mim, percebendo a incúria delas, avança com o corpo para fora, nesse momento eu só via uma de suas mãos segurando na janela, os seus pés levantando o corpo ficando bem na pontinha dos dedos, até ficar apoiada na ponta de apenas um dos dedões, já que a outra perna balançava no ar para dar equilíbrio e alcançar seu objetivo.
Segundo o relato da própria Alda nos dias de hoje, ela tinha queria alcançar uma caixa de marimbondos que ficava próxima ao beral da casa, pura curiosidade infantil, e conseguiu o que queria; colocar o dedo lá, com o indicador direito ela sentiu-o deslisar para dentro do habitat daqueles insetos que se tornam terríveis quando perturbados; não deu outra, uma nuvem deles saiu alvoroçadamente em nossa direção, entranto por todo quarto, não sei como a Alda veio ao chão tão rapidamente, me lembro em flashs da correria e que em seguida eu estava coberto por uma manta, e minha mãe e minha tia gritavam: ‘fica quietinho aí’, fiquei lá só ouvindo os gritos e ais.
O restante dá para imaginar, a tia Lúcia, minha mãe e a Alda ficaram cheias de inchaços pelo corpo. Só eu saí ileso nesta. Imaginem a bronca que ele levou, como se isso fosse mudar o jeito dela. Sabe por quê? Não. Então leia a próxima história e saberá.


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A Chuva na Janela


Era à tarde, me lembro que havia passado o horário de almoço, estava bem claro apesar da chuva, parecia que era uma chuva de verão, daquelas em que você o sol num lado e a chuva noutro; o clima estava maravilhoso, sentia-me muito bem, a janela do quarto estava aberta e podíamos ver as goteiras de chuva caindo do beiral do telhado, minha mãe costurava, era ela que fazia nossas roupas, bordava, tricotava, clochetava, zirzia e tudo mais relacionado a as roupas.
A Alda? Ah! A Alda estava entre a janela e a cama, ela pulava de uma cadeira enconstada na parede junto à janela para a cama e vice-versa.
Para mim a chuva era algo mágico. Via aquelas gotas de água caindo e ficava sempre pensando de onde elas vinham, meu pai disse que elas vinham do céu, e era São Pedro lavando o chão do céu, e com isso derramava água na terra; os trovões era barulho dos móveis sendo arrastados lá em cima. Para os relâmpagos não lembro ter ouvido explicações.
Num certo momento a Alda começou a passar a mão pelas goteiras, para isso ela avançava com o corpo para fora da janela, em seguida trazia a mão para dentro e mostrava para mim, ‘oh não molha, não molha’; ia para lá envergava o corpo e passava a mão novamente pelas goteiras e repetia ‘não molha, não molha’; eu ficava mais encantado ainda, como poderia ela fazer aquilo, era muito mágico, eu gostaria de fazer também, mas era muito alto e eu era muito pequeno ainda.
Numa dessas idas a Alda foi com tudo, a cintura dela ultrapassou a altura da janela e ela ficou sem apoio, só vi a pernas dela virando para cima, a Alda estava caindo ia bater a cabeça e podia quebrar o pescoço, eu lembro que sempre me falavam isso; e num sobressalto eu vi minha mãe agarrando ela pelos tornozelos, já estava apenas vendo seus pezinhos, quando minha mãe a salvou.
Dá para repetir: ‘Que anjo forte tem essa Alda’.




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O Poço e a Lata de Cêra


Depois dessa, por mais incrédulo que você seja irá acreditar que anjos existem. Lembro vagamente desta cena, minha mãe afirma que eu estava dormindo, mas existe uma imagem em minha mente tão clara que faz-me acreditar que eu estava lá, ao lado da Alda.
Naqueles tempos, meados dos anos 60, o chão das casas era de madeira e para mater aquele piso brilhando o costume era encerá-los e despois lustrá-los para que tudo ficasse bonito, limpo e higiênico. Minha mãe sempre fazia isto e a lata que continha cêra era guardada junto a cobertura do poço de água, pois era um lugar alto longe do alcaçe das crianças, visto que o produto pode causar danos a saúde, nem tão longe assim pois a Alda deu um jeito de cutucar a onça com a vara curta.
O poço tinha uma tampa que o cobria quando não estava sendo usado – tirando água – e sempre foi o hábito de todos adultos daquela casa, na época apenas meu pai e minha mãe, além dos parentes e vizinhos quando vinham visitar, e pode ter certeza sempre vinham, aliás, a casa de minha mãe sempre foi cheia de visitas, ela sempre foi bem querida, pois até hoje é assim.
A Alda não se sabe por que, subiu no poço e começou a pular para de um lado para outro sempre se segurando na travessa que era parte da sustentação da manivela usada para tirar a água do poço, havia uma corda e um balde amarrado nela. Então ela abre a tampa do poço, só pode ter sido ela, não me lembro tê-la visto fazer isso. Continua a brincar e então ela vê a lata de cêra; fica na ponta dos pés – isso tudo acontecendo em cima do poço – e a tampa aberta; então na pontinha dos dedões ela atinge uma altura capaz de, com a ponta dos dedos da mão direita empurrar a lata de cêra, a outra mão ela segura na travessa. Então empurra, empurra com tanta dificuldade que a lata sai e cai dentro do poço. A lata esta cheia, o barulho da queda batendo na água (tibum) foi grande. Minha mãe costurava e ao ouvir tamanho barulho ficou completamente gelada, pálida, assim a D. Zulmira nos conta, e imediatamente o pensamento foi que a Alda havia caído dentro do poço, correu imediatamente ao local e viu a Alda toda sorridente, mas bem assustada.
Abraçou forte e com vários sentimentos; ao mesmo tempo que sentia raiva pelo susto que passou também sentia grande alívio, pois a Alda estava sã e salva.
Então, havia, ou não um Anjo da Guarda lá? E é de se dizer que Anjo Forte.
Ah, a água do poço continuou boa, a lata de cêra, segundo D. Zulmira, ficava sempre bem tampada.


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Um Anjo no Pé de Goiaba


Eu tinha aproximadamente um ano e meio, não me recordo bem, nossa casa, pela visão daquela época em que eu ainda era pequenino, parecia enorme, os cômodos todos muito grandes, os móveis então, nem se fala, pareciam gigantes; e quando saía para o quintal, meu Deus quanta liberdade. Lembro-me de um lugar onde ficavam as galinhas, outro lugar havia bastante madeira para lenha. O quintal todo era cheio de árvores gigantes; para mim é claro; a maioria era frutas. Uma delas o pé de goiaba.
Claramente não sei como cheguei até lá, no topo da goiabeira. Minha visão só permite lembrar-se da pilha de lenha que havia embaixo da goiabeira, lembro-me vagamente de perambular por sobre ela. Outra imagem que vem a memória é a Alda pendurada de mão em mão, nos vários galhos pelos quais ela saltitava, parecia um macaco. Lembro também que ela falava muito e ficava sempre agitada.
Ouvi alguns gritos que não sei interpretar o que eram. Mas em seguida minha mãe estava lá embaixo; como eu estava grande; não tinha a percepção de que estava alto e sim que havia crescido. Ela também estava agitada e revesava a agitação com momentos de calma, muita calma e voz macia, com momentos de fúria e voz agressiva. Não estava entendendo bolufas alguma, nem imaginava, ou melhor, nem sabia o que era perigo, e que eu estava passando por um momento que era muito perigoso e podia causar um acidente grave. Para falar a verdade não senti medo algum, acho que não entendia o que era o medo ainda.
Aos poucos fui compreendendo que estava recebendo instruções do que deveria fazer. Põe um pezinho aqui, o outro agora, não, não volta, isso, põe um pezinho aí embaixo, nesse galho, segura no outro agora, põe o outro pé, o outro, não, esse não, o outro...
Enquanto recebia as instruções recordo apenas da Alda de galho em galho, sempre pendurada, falante e agitda. E assim foi até chegar numa altura em que senti uma mão fria e úmida segurando minha perna e logo em seguida outra mão segurava-me por debaixo do braço e por fim me agarrando. Era a altura suficiente para o abraço da minha mãe.
Não me lembro de mais nada após isso, incrível, mas de uma coisa tenho certeza...
ANJOS EXISTEM!

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sábado, 19 de março de 2011

A Menina dos Meus Sonhos.

    Quando eu a percebi pela primeira vez, não era a primeira vez que a vi. Estava simplesmente linda, gostava muito de dançar, e dançava com o corpo e com o olhar, um olhar gateado, daqueles que invadem a alma da presa. Parecia ser feliz, transbordava uma alegria no sorriso manso, na expressão meiga de sua face. Desejei tocá-la. Aproximei-me. Falamos, dançamos, estávamos nos entendo. Aos poucos ela revelou ser carinhosa, mas somente para roubar minhas carícias. E o tempo foi passando. Já eram quatro horas da madrugada, quando eu notei sua voz calma, uma canção aos meus ouvidos, cansados do som estridente das músicas do salão, estávamos sentados de frente um para o outro quando notei que naquele olhar e naquela voz havia uma desconfiança e incredibilidade nas minhas palavras; mesmo assim ela não se afastou permaneceu forte no seu propósito de conquista e domínio, qualidades próprias de aventureiros. Ao final troquei um beijo, ou melhor, roubei-o, ela quis corresponder, mas esquivou-se. Então com medo de uma provável derrota, puxei-a fortemente de encontro a mim. Foi quando o relógio despertou... “Acorda meu filho, hora do trabalho” minha mãe gritava da cozinha, “o café está na mesa”.
(Professor Edino)

O Aprendiz


O menino tinha um sonho, ele queria muito voar. Na primeira vez não deu certo. Depois ele deu dois passos, saltou e exclamou:
___ Senhor! Estou conseguindo.
E o velho respondeu indagando:
___ Diga-me, qual é a sensação de estar por cima? Como é sentir-se como um rei? Heim!? Vossa Alteza!?
___ Mentor!  Gritou o menino (Mentor era o nome do velho), não precisa bater as asas como um beija-flor, nem cantar como um bem-te-vi. Basta o mínimo de esforço e o triplo de atenção, é fácil!
___ Então, respire fundo e acorde! Disse-lhe o velho, isso é apenas um milésimo do que deverá aprender.


Longe É Um Lugar Bem Perto de Mim

Lá estava eu, longe de minhas recordações. Fui-me embora para a cidade grande sem saber o que me esperava, imaginei até que a cidade me esperava. Mas...
Sentei num banco da Praça Tiradente, em frente à Catedral, tentei pensar em algo que voasse meus pensamentos, mas o trânsito infernal despiu meu céu de ilusões. Só então, senti-me desolado, num mundo cheio de gentes e barulho.
Levantei-me e fui embora, fui encontrar minhas recordações.
Minha cidade me esperava. O inferno de meus tormentos encontrou a paz no céu.


domingo, 13 de fevereiro de 2011

SEM TÍTULO AINDA. Quero receber sugestões para o título desse conto. Deixe nos comentários...

Pela manhã logo que acordei, fui fazer a barba. Início de semana. Preparei-me para o trabalho. Como de costume tomei minha primeira xícara de café feito na hora. Continuei com os preparos, o tempo parecia passar rápido, levei o leite para meu filho, dei-lhe um beijo e um bom-dia, ele sorriu e agradeceu. Minha filha já estava quase pronta, deixo-a na escola e sigo para o trabalho, mas eu ainda não estava. Parecia que o dia seria diferente, a rotina não obedecia. Ao sair percebi que não havia recolhido o carro ele ficou para fora, na rua. Voltei, pois havia esquecido o controle do portão da garagem. Agora já no carro lembrei-me do celular. Voltei novamente. Rotina? Já não havia quase nada dela. Em fim seguimos.
Deixei minha filha na escola com um beijo e o desejo de uma boa aula. Segui para o trabalho. De repente a rotina parece voltar e tudo se tranqüiliza, meus pensamentos também.
Chegando a frente do trabalho, parei por uns instantes dentro do carro e fiz uma pequena oração. Pedi a Deus para ter um bom trabalho. Que Ele abençoasse os adolescentes, e eu aprendesse algo.
Quando cheguei à sala, todos já haviam feito a oração e estavam entrando, liguei meu “PC” organizei um pouco do que iria precisar dali uma semana. Uns cinqüenta minutos depois já era o momento de ter contato com os meus.
Hoje era dia de prova. Na primeira turma tudo normal, na segunda turma, alguma coisa estava diferente, inclusive a formação deles, ao invés de quatro filas, havia apenas três. Segui com o trabalho, distribui as provas, dei todas as informações necessárias.
Enquanto aguardava o final das provas, eu circulava pela sala. Num determinado momento, parei olhei no relógio, eram nove horas e vinte oito minutos. Guardei o relógio e olhei para através da janela, avistei uma casa com uma chaminé muito interessante, as sombras da araucária na frente da casa, passeavam sobre o telhado. Não havia vento. Essa foi minha estranheza. Fixei meus olhos e no flagrante do piscar eu vi uma paisagem rural, campestre, cheia de pinheiros (araucárias) eu caminhava e avistava casas ao longe, casas rurais, as chaminés com fumaças anunciavam um fogão cheio de afazeres, parecia que em alguns instantes eu sentia o cheiro do café passando, ao mesmo tempo eu percorria várias fazendas.
Numa delas me pareceu ter chegado ao paraíso, para chegar até lá cruzei um pequeno riacho, água bem transparente, corria levemente fazendo um murmúrio de córrego que só mesmo em filmes e em nossa imaginação, aquele som acariciava meus ouvidos e transportava uma calma e uma paz extraordinária para minh’alma. Depois de atravessá-lo por uma ponte de palanques sentei numa pedra enorme que havia ali e contemplei-o maravilhosamente. As suas margens por vezes havia um gramado (um pasto) de um verde completamente alucinante, por onde pastavam carneiros e ovelhas. Por vezes viam-se algumas árvores que deitavam suas sombras espessas no rio e no gramado, mais ao longe podiam observar outras que deixavam vazar os raios de sol enchendo de luz partes daquele imenso jardim rural.
Aos poucos deixei a contemplação, pois ouvi rumores de gansos que se aproximavam; estavam em número de sete e seguiam literalmente numa fila com distâncias exatamente marcadas.
Quando chegaram perto, eu estava meio tenso, pois aprendi ter receio com gansos.
O primeiro da fila olhou-me como quem queria falar comigo, abaixava e esticava o pescoço, num movimento convidativo a acompanhá-lo, entendi que fora isso o que ele queria, e segui escoltado por sete gansos. Detalhe eram seis brancos e apenas um tinha uma pena rajada em cada asa. O caminho me conduziu a casa, não percebi no caminhar; foi tão rápido, uma distância tão longa, e nada de cansaço; voltei-me para trás e vi que estava no alto de um cume. De lá eu podia ver vários vales cortados por riachos, e algumas pequenas cascatas que desciam até eles, eram quatro no total. Uma delas parecia um filete de água, outra um véu, uma delas descia uma escada de pedras e a outra simplesmente jorrava água como uma fonte em uma pedra. Em um dos vales havia um morro que mais parecia um cone. Retomei meu olhar á casa, era ladeada de pedras retirados do próprio campo; logo atrás havia uma pequena mureta de pedras que abrandava o terreno pouco íngreme e debruçava sobre ela flores vermelhas, de um vermelho muito vivo; a casa era feita de troncos de arvores bem talhados, à frente uma porta de madeira bem pesada e uma janela que ostentava um vaso de parede sob ela. Com flores de uma espécie que não conheço, parecia impatiens grudados em cordões de cipós, flores de todas as cores, inclusive azuis.
Exalava de dentro um cheiro maravilhoso que misturava em minha mente vontade de comer (não de fome), com vontade de aspirar cada vez mais aquele cheiro delicioso envolvente, que ao mesmo tempo despertava um desejo enorme de amar e ser amado.
Ao que aparece um anjo, não uma anja... Anja? Existe anja?
Sei lá.
Clara, não branca; de cabelos amendoados, longos até a altura dos seios, um manto e uma túnica brancos, muito brancos lhe cobria o corpo, pareciam plumagens que misturavam a algo parecido com umas asas. A brancura fazia destacar a cor amendoada dos cabelos e de sua pele. Os cabelos, levemente ondulados e volumosos, variavam nas tonalidades chegando a quase louros. A pele tinha um tom só. Os pés não tocavam o chão e que lindos eram aqueles pés de proporções notórias. Os dedos de suas mãos faziam um movimento leve como que me cumprimentasse e ao mesmo tempo me chamava para dentro, dedos e mãos perfeitas. Sua túnica era transparente e mostrava levemente um corpo estrutural, de formas incríveis. Seu rosto por fim traduzia a paz, o amor e todas as virtudes que se possa imaginar. Olhos perfeitamente azuis que combinavam indiscutivelmente com aqueles lábios carnudos e rosados. Seu sorriso mostrava uma alegria contagiante. Como é lindo quando a mulher sorri. Colocou sua mão esquerda sobre a minha direita, parecia que algo estava entre nossas mãos, com o seu olhar angelical me transmitiu, sem palavras, que um presente estava me dando.
Respirei profundamente aquele perfume, fechei meus olhos e ouvi uma voz dizendo: ‘Professor, faça o favor!
Olhei para minhas mãos meu celular ainda apontava o mesmo horário, nenhum segundo mais, nenhum segundo a menos.
Olhei para o lado e atendi ao pedido de um aluno.
Retornei ao mesmo local olhei através da janela e vi a mesma paisagem, mas não tive a mesma sensação.
Senti uma felicidade a partir daquele instante.
Nada de especial, mas passei o dia muito bem, com uma sensação maravilhosa.
Noutro dia noutra sala olhei para a mesma paisagem, já não era o mesmo sol, nem as mesmas sombras.
Era outro dia com maravilhas diferentes. Então percebi que os dias mudam as paisagens mudam, nós mudamos, as sensações mudam apesar de estarem no mesmo lugar e serem as mesmas.
Hoje sou eu mesmo, mas diferente, sou o mesmo, mas mudei.
Espere não acaba por aqui, ao reler o texto comecei a sentir as sensações novamente, e um leve aroma chegar ao ar. Estou sentado agora, mas minha cadeira flutua juntamente com a mesa, e me sinto completamente feliz...
Uma imagem surge ao meu lado é uma...
Professor Edino    

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O carro

Hoje, quando olhei pela janela de meu quarto, vi um carro estacionado no outro lado da rua, imediatamente veio a minha mente uma imagem de há muito tempo, eu estava a caminho de São José dos Pinhais, não me lembro direito com quem estava, nem o que eu iria fazer, só  lembro que ia para lá.
Sobre um viaduto totalmente lotado, o trânsito quase parando e às vezes até parava mesmo, eu avistei um carro, ‘nossa que carro legal esse’ - pensei eu, conseguia ver através do vidro escuro um homem bem vestido, terno e gravata, não era quem dirigia, percebi então que havia um motorista, ou melhor, chofer; também havia outras pessoas no banco de trás, pareciam todos, ricos, pensei e imaginei que um dia eu também teria um carro desses, me vestiria igual a eles; parecia até que faziam reunião no carro. Muito confortável pelo jeito, pois donde eu estava sentia um calor e o sol queimava, mesmo por cima da roupa. Eles pelo contrário deveriam estar com ar condicionado. Que maravilha de carro.
Hoje o mesmo carro não é tão maravilhoso assim, ele é exatamente igual ao que vi no viaduto, cor e tudo, até os vidros são escuros, mas já faz tanto tempo.  O carro estava parado em frente a uma creche pública, fiquei ali lembrando meus desejos... Muito bom, maravilhoso sonhar, eu nunca tive um carro daquele, nem mesmo gostaria de ter um agora. Nossos sonhos evoluem porque os carros também evoluem, porém outras coisas não.
Enquanto lembrava o passado, sonhava com outros carros para o futuro - talvez seja essa a razão de nunca ter um carro evoluído, deveria sonhar com um carro para o presente, quem sabe. 
Um rapaz de aparência jovem saia da creche com uma criança no colo, uma menina, parecia orgulhoso, tanto ele quanto a criança, caminhavam em direção ao carro, e realmente entraram no carro. Eles foram. Talvez para casa!
Fiquei pensando, ricos nunca precisam consertar o carro, pois estão sempre evoluídos. Já o pobre rapaz, provavelmente deverá fazer alguns reparos, pois na partida me pareceu um barulho estranho, sabe: suspensão, amortecedor, escapamento, entre outros... Não sei se a mancha de óleo que vi já estava lá ou foi deixado por ele. Sei lá.
Alguns só pagam prestações, e ás vezes nem isso, outros além das prestações ainda arcam com os consertos, que muitas vezes, e na maioria delas são também parcelados. E são felizes, orgulhosos de suas conquistas
Isso é justo meu Deus?
Professor Edino

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

VERGONHA OU O QUÊ?


Olá! Recentemente recebi um e-mail, que corre a internet, com o seguinte conteúdo(Ipses literis):

"O grande parlamentar brasileiro TIRIRICA foi diplomado em 17.12.2010...
Salário: R$ 26.700,00
Ajuda Custo: R$ 35.053,00
Auxilio Moradia: R$ 3.000,00
Auxilio Gabinete: R$ 60.000,00
Despesa Médica pessoal e familiar: ILIMITADA E INTERNACIONAL (livre escolha de médicos e clínicas).
Telefone Celular: R$ ILIMITADO.
Ainda como bônus anual (+ 2 salários): R$ = 53.400,00
Passagens e estadia: primeira classe ou executiva sempre
Reuniões no exterior: dois congressos ou equivalente todo ano.
Mensalão: A COMBINAR!!!
Custo médio mensal: R$ 250.000,00
Aposentadoria: total depois de oito anos e com pagamento integral.
Fonte de custeio: SEU BOLSO!!!!!!
Dá para chamar ele de palhaço?
E agora... QUEM É O PALHAÇO???
Não precisa responder...
Este é o BRASIL-SIL-SIL!!!"

Escrevi então a Rede Globo de televisão o seguinte:

Gostaria de sugerir uma reportagem que esclareça a realidade sobre os salários dos deputados e senadores de nosso país, bem como os deputados de todos os Estados do Brasil, e também gostaria que fosse mostrado a necessidade de tal salário.

Estou escrevendo porque fiquei indignado com a questão dos apartamentos funcionais em Brasília e a fortuna gasta na reforma de cada apartamento.

Recentemente fui aprovado num concurso para professores no Paraná, e havia vagas somente fora do Município onde resido; para tal cursei uma faculdade e pós-graduação sem contar os cursos de formação continuada, entre outros que ocorrem durante a carreira de um professor; mas para tal vaga, em outro município, não há auxílio moradia ou outros benefícios. Querem saber o salário inicial? Dá-me até vergonha, mas é a pura verdade:
R$ 774,85; e se for aceito meu curso de pós-graduação; poderei começar com R$ 968,56 e só poderei ter um avanço (aumento de salário) 3 anos depois de passado o estágio probatório. Estava esquecendo tem o auxílio transporte que é de R$ 226,03 (quase igual ao dos parlamentares). Isso porque eu já tenho um cargo de 20 horas na mesma função.

Antes disso eu trabalhava 20 horas no cargo e 20 horas extraordinária, e recebia o mesmo salário de um cargo com a carreira de 24 anos de trabalho. Para não ficar sem as extraordinárias assumi agora em 2011, o novo cargo através do concurso realizado em 2007.
E então meu salário BAIXOU, se já tive estágio probatório antes, já passei por tantos cursos, por que tenho que começar tudo de novo, será que as minhas aulas tem menos valor a partir de agora, nesse novo cargo? Sem contar que para eu me aposentar é necessário; para professores homens; 30 anos de trabalho, não fica muito longe da aposentadoria dos parlamentares, diferença mínima,  não é? E alguns deles nem mesmo o ensino médio terminaram.

Gostaria então que houvesse um esclarecimento a população sobre o salário, os auxílios e por que não dizer, das regalias dos nossos políticos. Quantos deles tem o Brasil? Multiplicando e somando esses "salários", qual é a quantia? O que dá para fazer ou investir em saúde, moradia e educação, com essa quantia?

Se esse e-mail é real, que vergonha...
Vergonha que nós sentimos, eles sentem o quê?


Um abraço a todos!

Para quem tem dúvidas, nesse link pode-se verificar os vencimentos dos Professores do Paraná.