segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Poço e a Lata de Cêra


Depois dessa, por mais incrédulo que você seja irá acreditar que anjos existem. Lembro vagamente desta cena, minha mãe afirma que eu estava dormindo, mas existe uma imagem em minha mente tão clara que faz-me acreditar que eu estava lá, ao lado da Alda.
Naqueles tempos, meados dos anos 60, o chão das casas era de madeira e para mater aquele piso brilhando o costume era encerá-los e despois lustrá-los para que tudo ficasse bonito, limpo e higiênico. Minha mãe sempre fazia isto e a lata que continha cêra era guardada junto a cobertura do poço de água, pois era um lugar alto longe do alcaçe das crianças, visto que o produto pode causar danos a saúde, nem tão longe assim pois a Alda deu um jeito de cutucar a onça com a vara curta.
O poço tinha uma tampa que o cobria quando não estava sendo usado – tirando água – e sempre foi o hábito de todos adultos daquela casa, na época apenas meu pai e minha mãe, além dos parentes e vizinhos quando vinham visitar, e pode ter certeza sempre vinham, aliás, a casa de minha mãe sempre foi cheia de visitas, ela sempre foi bem querida, pois até hoje é assim.
A Alda não se sabe por que, subiu no poço e começou a pular para de um lado para outro sempre se segurando na travessa que era parte da sustentação da manivela usada para tirar a água do poço, havia uma corda e um balde amarrado nela. Então ela abre a tampa do poço, só pode ter sido ela, não me lembro tê-la visto fazer isso. Continua a brincar e então ela vê a lata de cêra; fica na ponta dos pés – isso tudo acontecendo em cima do poço – e a tampa aberta; então na pontinha dos dedões ela atinge uma altura capaz de, com a ponta dos dedos da mão direita empurrar a lata de cêra, a outra mão ela segura na travessa. Então empurra, empurra com tanta dificuldade que a lata sai e cai dentro do poço. A lata esta cheia, o barulho da queda batendo na água (tibum) foi grande. Minha mãe costurava e ao ouvir tamanho barulho ficou completamente gelada, pálida, assim a D. Zulmira nos conta, e imediatamente o pensamento foi que a Alda havia caído dentro do poço, correu imediatamente ao local e viu a Alda toda sorridente, mas bem assustada.
Abraçou forte e com vários sentimentos; ao mesmo tempo que sentia raiva pelo susto que passou também sentia grande alívio, pois a Alda estava sã e salva.
Então, havia, ou não um Anjo da Guarda lá? E é de se dizer que Anjo Forte.
Ah, a água do poço continuou boa, a lata de cêra, segundo D. Zulmira, ficava sempre bem tampada.


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