segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Chuva na Janela


Era à tarde, me lembro que havia passado o horário de almoço, estava bem claro apesar da chuva, parecia que era uma chuva de verão, daquelas em que você o sol num lado e a chuva noutro; o clima estava maravilhoso, sentia-me muito bem, a janela do quarto estava aberta e podíamos ver as goteiras de chuva caindo do beiral do telhado, minha mãe costurava, era ela que fazia nossas roupas, bordava, tricotava, clochetava, zirzia e tudo mais relacionado a as roupas.
A Alda? Ah! A Alda estava entre a janela e a cama, ela pulava de uma cadeira enconstada na parede junto à janela para a cama e vice-versa.
Para mim a chuva era algo mágico. Via aquelas gotas de água caindo e ficava sempre pensando de onde elas vinham, meu pai disse que elas vinham do céu, e era São Pedro lavando o chão do céu, e com isso derramava água na terra; os trovões era barulho dos móveis sendo arrastados lá em cima. Para os relâmpagos não lembro ter ouvido explicações.
Num certo momento a Alda começou a passar a mão pelas goteiras, para isso ela avançava com o corpo para fora da janela, em seguida trazia a mão para dentro e mostrava para mim, ‘oh não molha, não molha’; ia para lá envergava o corpo e passava a mão novamente pelas goteiras e repetia ‘não molha, não molha’; eu ficava mais encantado ainda, como poderia ela fazer aquilo, era muito mágico, eu gostaria de fazer também, mas era muito alto e eu era muito pequeno ainda.
Numa dessas idas a Alda foi com tudo, a cintura dela ultrapassou a altura da janela e ela ficou sem apoio, só vi a pernas dela virando para cima, a Alda estava caindo ia bater a cabeça e podia quebrar o pescoço, eu lembro que sempre me falavam isso; e num sobressalto eu vi minha mãe agarrando ela pelos tornozelos, já estava apenas vendo seus pezinhos, quando minha mãe a salvou.
Dá para repetir: ‘Que anjo forte tem essa Alda’.




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